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O Sentido da Água

Introdução ao relatório de trabalho - terceiro trimestre de 2019

 

No início do ano, trouxemos à escola integrantes da ONG “Rios e Ruas”, que nos ensinaram muito sobre água: locais próximos a nascentes, nascedouros que existem dentro da própria Ágora; aprendemos sobre rios, cachoeiras...

   

Um aluno do primeiro ano, sob a ótica especial de seus seis anos, resumiu:

   

– O rio não gosta da cachoeira, porque ela ajuda ele morrer mais depressa...

   

Pura poesia, ao explicar que cachoeira impele o curso do rio mais rapidamente em direção ao mar!

Passamos, depois disso, pelas oficinas de terra, com a Letícia Achcar, aquela arquiteta que nos trouxe tantos saberes sobre esse elemento que dá nome ao planeta. Pau a pique, taipa foram termos incorporados ao conhecimento e ao fazimento (sim, ergueram paredes!) de nossos alunos.

A triangulação completou-se com o erguimento do espaço de experimentação: cavar, socar, serrar, transportar, assentar foram ações vividas por esta comunidade escolar – nada de discutir a importância da terra ou da água intermediados por livros, jornais, filmes e pela racionalização do discurso de sala de aula. O aprendizado que passa pelo corpo, que percorre os sentidos, fica para sempre.

Vocês devem ter visto o filminho do momento em que fez-se a água no novo espaço. A alegria, a vibração, o entusiasmo de todos no momento em que a torneira foi aberta e o líquido jorrou, foi emocionante! Quantas vezes nossos alunos haviam aberto torneira na vida? Quantas vezes praticaram esse ato sem, ao menos, se dar conta do que estavam fazendo?

Aí, mora a beleza do trabalho do educador: iluminar o que está obscuro, revisitar o que está esquecido, fazer do ordinário o extraordinário, recuperar/ressignificar o banal para que ele se torne essencial; enfim, olhar com novos olhos para o que já existe.

Encerro esta introdução aos relatórios de trabalho ainda me referindo ao precioso recurso líquido: primeiro e oitavo anos estão fazendo um jardim filtrante juntos. Os alunos mais velhos fazem o trabalho mais pesado, naturalmente, cavando um caminho sinuoso, para a água da chuva não invadir os canteiros e danificar as plantas. Um menino do primeiro ano testava esse percurso, dirigindo a mangueira de água pelo chão que já havia sido cavado, quando uma pequena elevação interrompeu o fluxo corrente. Aí, um pequeno poeta do primeiro ano, de fazer inveja a Guimarães Rosa, disparou:

– Cava ali, Fernando! Ajuda a água!

Sem mais palavras,

Terê

 

 

PS: Agradecemos, imensamente, a todos os profissionais que estiveram conosco nesta jornada de 2019 e que, mesmo sem ser educadores, portaram-se como tais.

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